O instante em duração na fotografia

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A coletiva “Imagem-Movimento”, em cartaz na Zipper Galeria, em São Paulo, explora a noção de mobilidade na produção fotográfica de dez artistas: Ana Vitória Mussi, André Penteado, Felipe Cama, Felipe Russo, Graciela Sacco, Iris Helena, João Castilho, Katia Maciel, Patricia Gouvêa e Ricardo van Steen. Seja pela diversidade dos suportes, pela representação de processos de deslocamento ou pela hibridação de imagens de naturezas distintas, os trabalhos em questão têm o movimento como vocação ou sintoma.

Com curadoria de Nathalia Lavigne, a mostra vai até 14 de janeiro. Mais informações aqui

 

O instante em duração

O que distingue hoje uma imagem estática de uma imagem em movimento? Por muito tempo, a separação entre uma e outra parecia clara: na fotografia, o ‘instante decisivo’ (Henri Cartier-Bresson) garantia o registro objetivo de uma certa realidade. Congelada para sempre naquele passado, era ao mesmo tempo imortalizada e indissociável da ideia da própria morte. A imagem cinematográfica, ao trazer a duração e o movimento como possibilidades de representação, surgia quase em contraponto aos aspectos fotográficos. O fluxo temporal libertava a imagem do passado e a trazia para o presente. A realidade parecia imediata e transparente, como se o mundo se apresentasse sem intermediários na tela do cinema.

Se ilusão de retratar a passagem do tempo e o deslocamento espacial foi a grande mudança trazida pelo cinema em relação à fotografia, não demorou para que a distinção entre ambas as mídias passasse a ser questionada. Desde a década de 1960 que filmes como La Jetée (1962), de Chris Marker, feito com fotogramas fixos, vem discutindo o tempo congelado da imagem em movimento. Na fotografia, tal separação passou a ser confrontada em experiências como de Michael Wesely, que desenvolve câmeras especiais para captar fotos com tempo de exposição de meses ou anos, deixando a fluidez temporal como vestígio.

Normalmente associado ao cinema, o termo “imagem-movimento” é trazido nesta coletiva como uma possibilidade de pensar a ideia de duração e mobilidade presentes na imagem estática. Seja pela diversidade dos suportes, como é tratada por Graciela Sacco, Ana Vitória Mussi e Iris Helena; pela representação de processos de deslocamento, como nas séries de João Castilho, André Penteado, Patricia Gouvêa ou Felipe Russo; pela hibridação de imagens de naturezas distintas, que aparece em obras de Katia Maciel, Felipe Cama e Ricardo van Steen, os trabalhos em questão têm o movimento como vocação ou sintoma (Nathalia Lavigne).

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Nathalia Lavigne (1982) é crítica de arte, jornalista e curadora, doutoranda no programa de Projeto, Espaço e Cultura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU USP) e mestre em Teoria Crítica e Estudos Culturais pela Birkbeck, University of London. Atualmente, realiza uma pesquisa sobre colecionismo digital e reprodução de obras de arte no Instagram, orientada pelo Profa. Dra. Giselle Beiguelman. É colaboradora de veículos como Artforum, ArtReview, Select, entre outros. Foi uma das pesquisadoras do projeto “Observatório do Sul”, plataforma de discussões promovida em 2015 pelo Sesc São Paulo, Goethe-Institut e Associação Cultural Videobrasil.