Clube A Lôca

Breve histórico sobre o Clube A Lôca

A Lôca foi a primeira casa noturna de muitas pessoas, de 1994 a 2017. Balada onde, diferentemente das outras de São Paulo, se sentia uma liberdade inimaginável na época em que abriu as portas. É o que escutamos qualquer jovem dos anos 1990 dizer sobre a casa.

Relevância do Clube A Lôca para a comunidade LGBT+ e sua memorialização

Assim que atingiu a maioridade, a A Lôca estava em crise. As casas noturnas no geral já passavam a ideia de liberdade, ela já não era mais a única. A noite de São Paulo se tornou acolhedora para o público LGBT. A memória da liberdade anterior é cultivada nas mentes menos jovens. É paradoxal pensar que, em 2017, a casa tenha sua porta fechada com tijolos pela prefeitura de São Paulo, o elemento mais interruptor de liberdade possível. Não se pode entrar, mas também não se pode sair. Alguns desavisados dirão que a A Lôca agora é só mais uma dentre tantas baladas LGBT de São Paulo, mas essas baladas abrem e fecham. O fechamento da A Lôca é símbolo máximo do momento atual que vivemos, e marca que o progresso dos anos noventa até os dias de hoje foi interrompido. O retrocesso bate à porta, e talvez toda a memória contida por detrás daquelas portas fique aprisionada lá. O subprefeito da Sé justificou a ação da prefeitura dizendo que o clube “ignorava princípios mínimos de civilidade”. E, tempos depois, a A Lôca reabriu, sob nova direção, após uma grande reforma.

A ideia do clube de amigos dos anos 1990 surge, hoje em dia, renovada. Cacá Ribeiro, sócio de grandes casas da noite paulistana, como o Club Yacht e a Lions, e que recentemente abriu o Club Jerome, atrás do cemitério da Consolação, que conta com uma atmosfera de experimentação musical semelhante a dos clubes dos anos 1990, porém atualizada ao público atual, diz que a ideia é: “pequeno clube, para amigos e figuras da noite, que estão a fim de ouvir música boa, mas que não dispensam um bom serviço”. Essa talvez seja a maior diferença da A Lôca da década de 1990 para hoje; enquanto a noite se tornou mais acolhedora, são poucos os motivos para se continuar frequentando um lugar que não se reinventa ou não oferece um bom serviço. “A novidade sempre vai ser o novo com o velho. A Lôca tem o passado dela. Mas como juntar esse passado com alguma coisa nova?”, se pergunta Cacá.

A reforma da Lôca trouxe um cenário problemático, onde já não se viu mais o clube de outrora, mas mais um dos clubes que abrem e fecham de hoje em dia. Não houve cuidado com o que ela representa. Na tentativa de se adentrar ao mercado competitivo da noite paulistana de hoje em dia, mudou-se a gestão, que passou das mãos do conhecido Aníbal para um grupo de empresários, e assim a memória do que ali existiu foi higienizada, efemerizada, restrita às conversas, às testemunhas, às fotos e aos livros. Na tentativa de se conciliar passado e presente, o segundo pareceu mais importante.

Pode-se encontrar parte da memória nas raras entrevistas do Aníbal, ex-proprietário da A Lôca, nas fotos tiradas por muitos, dentre eles Lufe Steffen, que organizou um livro com fotografias suas que contam a história da Grind, balada de rock do clube que funcionava às quinta-feiras, e no livro ‘Babado Forte”, de Erika Palomino.

[Texto de Murilo Romeu]

Faça o download da sinalização para esse lugar de memória aqui!

Referências:

PALOMINO, Erika. Babado Forte: Moda, Música e Noite. São Paulo, Editora Mandarim, 1999.

STEFFEN, Lufe. Tragam os Cavalos Dançantes: A História do Grind. São Paulo, Editora do Autor, 2008.

ASSEF, Cláudia. Aníbal Aguirre, o dono da Loca, conta em primeira mão as mudanças que o público verá no clube a partir deste mês. Disponível em <https: //musicnonstop.uol.com.br/anibal-aguirre-o-louco-da-loca-conta-em-primeira-mao-as-mudancas-que-o-publico-vera-no-clube-a-partir-deste-mes/> Acesso em 20 de Abril de 2018.

ASSEF, Cláudia. ‘Não sabia o que era boate antes de São Paulo’ diz proprietário da casa A Loca. Disponível em <http: //www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2015/07/1656176-nao-sabia-o-que-era-boate-antes-de-sp-diz-proprietario-da-casa-a-loca.shtml> Acesso em 20 de Abril de 2018.

ASSEF, Cláudia. A Loca faz 21 Anos. Não Confie em Alguém Maior de Idade que Nunca Tenha Ido Lá. Disponível em <https: //musicnonstop.uol.com.br/a-loca-faz-21-anos-nao-confie-em-alguem-que-nunca-tenha-ido-la/> Acesso em 20 de Abril de 2018.

VASCONCELOS, FRÉDI. Dória fecha Alôca, casa noturna símbolo do movimento LGBT em SP. Disponível em <https: //www.revistaforum.com.br/doria-fecha-aloca-casa-noturna-simbolo-movimento-lgbt-em-sp/> Acesso em 20 de Abril de 2018.