Ferro’s Bar

Breve histórico do Ferro´s Bar

Hoje funcionando como vestiário de funcionários que trabalham em restaurantes da região, o espaço do Ferro’s Bar fora marco na histórica das lésbicas e de sua organização política. Desde a década de 60 até meados da década de 90, com seu fechamento, o local funcionava como pizzarria de dia e como ponto de encontro e socialização das lésbicas da região metropolitana de São Paulo durante a noite. Participando de um complexo de bares no bairro do Bixiga que se voltavam para o mesmo público, o Ferro’s Bar tomou destaque tanto pela sua centralidade na socialização mas também por ter sido lá onde ocorreu a primeira manifestação política organizada de lésbicas no Brasil.

 

Relevância para a comunidade LGBT+ e sua memorialização

O funcionamento do bar no período da década de 60 à 90 com um público majoritariamente feminino insere-se em um contexto de uma nova presença da mulher no espaço público metropolitano brasileiro. Até então, sempre acompanhada por um homem ou tensionando com a identificação de prostituta, a partir dos anos 60 a mulher começa a participar e aparecer de outro modo, apropriando-se de modo mais autônomo e frequente o espaço que até então lhe era recusado. Em meio a esse contexto é possível traçar paralelo com a organização política no Ferro’s Bar, onde se por um lado era um local com a presença de mulheres socialmente reconhecido por outro resultava no tensionamento com valores vigentes, fazendo da organização política necessária.

O bar fora constante ponto de encontro do Grupo de Ação Lésbico Feminista (GALF, 1981-1990), onde eram organizadas suas reuniões e vendida a publicação Chana com Chana, a qual veiculava debates e produções artísticas com a temática lésbica. Com a tentativa do proprietário de proibir a venda, organizou-se um levante no dia 19 de Agosto de 1983 reivindicando o direito de venda da publicação mas também apontando para a própria  discriminação pela qual essas mulheres passaram. O levante contou com a presença de outros grupo homossexuais e feministas, como também de agentes filiados a diversos partidos políticos, contribuindo para a ampliação do debate político em torno das reivindicações da população homossexual, e efetivamente fazendo um marco histórico para essa população.

As memórias documentadas que foram identificadas em torno do lugar restringem-se ao campo da escrita, com o romance de Cassandra Rios intitulado Anastácia, o qual inicia sua narrativa no espaço do bar; também, com o site Um Outro Olhar, fundado e mantido por uma das antigas lideranças centrais do GALF, Míriam Martinho, onde são feitas publicações virtuais em torno da temática lésbica.

A partir disso, é importante apontar a inexistência do reconhecimento material de uma memória que gira em torno desse espaço.

[Texto de Ana Clara Fior e Greta Comolatti]

Faça o download da sinalização para esse lugar de memória aqui!

Referências:

RIOS, Cassandra. Anastacia. São Paulo: editora Record, 1977.
VANGE, Leonel. Grrrls: Garotas Iradas. São Paulo: editora GLS, 2001.
GALF: a história de um grupo de mulheres lésbicas. Chana com Chana, São Paulo, n.3.
Ferro’s Bar, dia 19 de Agosto: uma vitória contra o preconceito. Chana com Chana, São Paulo, n.4.

NOSSO AMOR EXISTE. O Levante ao Ferro’s Bar: A história não contada do “Stonewall” brasileiro. Disponível em: <http://www.nossoamorexiste.com/2016/10/o-levante-ao-ferros-bar-a-historia-nao-contada-do-stonewall-brasileiro/>. Acesso em: 10 de agosto de 2018.
UM OUTRO OLHAR. 19 de Agosto: Primeira Manifestação lesbiana contra a discriminação no Brasil. Disponível em: <http://www.umoutroolhar.com.br/2017/08/19-de-agosto-primeira-manifestacao-lesbiana-contra-discriminacao-no-brasil.html>. Acesso em: 10 de agosto de 2018.
MÍRIAM MARTINHO. Um outro olhar: para mulheres lesbianas e afins, 2004. Sobre o site. Disponível em: <http://www.umoutroolhar.com.br>. Acesso em: 10 de agosto de 2018

Vídeo entrevista com Marisa Fernandes. 39 minutos. Acervo privado