Breve histórico do lugar
Um viaduto sobre a Av. 23 de Maio (localização atual incerta), que, além de uma via urbana localizada sobre uma das maiores avenidas metropolitanas da América Latina, em São Paulo, aparece nesse caso como um infeliz marco de morte de uma pessoa LGBT+.
Relevância para a comunidade LGBT+ e sua memorialização
Anderson “Bigode” Herzer, um homem transexual de 20 anos, cometeu suicídio ao se jogar desse local, num pedido de socorro decorrente de uma vida de violência. Apesar de não ter falecido imediatamente, o Viaduto remete às marcas de sofrimento constantes que Herzer sofreu ao longo de sua vida, de violências dentro e fora da antiga FEBEM (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor), na década de 80, e que expressou em seu livro de poesias – que tinha junto sua história de vida – postumamente chamado “Uma Queda para o Alto”, publicado pela Editora Vozes em 1982.
Anderson, nome social de Sandra Mara Herzer, é natural da cidade de Rolândia, no Paraná, nascido em 10 de julho de 1962. Após a morte do pai e a posterior morte da mãe, morou um tempo com a avó paterna, que também chegou a falecer, e depois foi adotada pelos tios. Mudaram-se de cidade algumas vezes durante a infância, chegando até São Paulo, onde Anderson passou boa parte da pré-adolescência e da adolescência.
Após alguns problemas com alcoolismo, Anderson foi internado compulsoriamente em algumas casas de repouso, das quais fugiu, quando aos 14 anos, sem motivo criminal, foi confinado na FEBEM Unidade Vila Maria, onde esteve durante a maior parte do tempo até os seus 17 anos, com entradas e saídas nesse entremeio. Na FEBEM, sofreu constantes violências pelas condições agressivas do local e pela sua identidade de gênero, caracterizando diversas humilhações por se identificar e se vestir como homem. Após procurar a ativista do Movimento em Defesa do Menor, Lia Junqueira, Anderson conseguiu sair devido à intervenção do recém-eleito Deputado Estadual, Eduardo Suplicy, que se responsabilizou a lhe dar um emprego que garantisse condições mínimas de vida na cidade de São Paulo e também fez uma intervenção para que Anderson tivesse a oportunidade de publicar seus poemas, que eram conhecidos, pela Editora Vozes.
Talvez pelas inseguranças e sofrimentos passados, e também pela humilhação, mesmo com a perspectiva de publicar o seu livro (no qual considerou necessário publicar suas poesias junto de sua história de vida, sendo impossível ambos serem dissociados), Anderson se jogou do Viaduto 23 de Maio no dia 09 de Agosto de 1982, e mesmo tendo sido socorrido com vida, faleceu no outro dia no Hospital das Clínicas por complicações devido à fraturas na bacia e decorrentes de hemorragias internas. É datada de 10 de agosto de 1982 sua morte, e um pouco depois seu livro, que já obteve mais de 23 edições até o momento, foi publicado, com um dos seus principais objetivos de denunciar a violência nas antigas FEBEMs.
O seu local de morte foi memorializado de uma forma coletiva, por movimento da sociedade civil. Representado em seu livro, através de relatos e depoimentos do próprio Eduardo Suplicy, além do nome de seu próprio livro que remonta essa trajetória – “A Queda para o Alto” – e posteriormente, sendo inspiração para o filme brasileiro “Vera” (Dir. Sérgio Toledo, 1987), o lugar é lembrado pela tragédia anunciada de violência ao menor, dentro das FEBEMs e também à violência à um homem transsexual na década de 1980 no Brasil.
[Texto de Larissa Karoline]
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Referências:
HERZER, Anderson, A QUEDA PARA O ALTO, São Paulo, 1982
http://www.jornaldepoesia.jor.br/ag47bigode.htm
https:// coletivoherzer.milharal.org/anderson-bigode-herzer/