Redes reais: arte e ativismo na era da vigilância compartilhada

“Redes reais: arte e ativismo na era da vigilância compartilhada” analisa a internet no campo das disputas políticas. Discute os modos pelos quais as redes impactam as formas de organização e de ação dos movimentos sociais e os novos processos de manipulação e controle. O artigo problematiza a articulação entre os territórios informacionais e os espaços sociais e econômicos, evidenciando o esmaecimento dos limites entre real e virtual. Destaca as novas modalidades de ativismo que, ao projetar outras formas de uso dos dados e das mídias, promovem a reprogramação dos meios e sua reverberação na esfera pública.


As redes se tornaram tão presentes no cotidiano e o processo de digitalização da cultura é de tal modo abrangente, que se tornou anacrônico pensar na dicotomia real/virtual. A rápida evolução das aplicações que envolvem sistemas computacionais interligados e integrados a objetos do cotidiano, como a computação em nuvem e a Internet das Coisas, e imagens que expandem informações do mundo físico, como a Realidade Aumentada, são algumas evidências que confirmam essa
hipótese.
Estamos, como bem sintetizou André Lemos, na fase do download do ciberespaço, em contraposição aos primeiros anos da Internet em que se acreditava em seu poder de desmaterialização dos corpos, em sua vocação para o apagamento do “sentido de lugar”, e em que as ações se concentravam em um movimento de upload contínuo de processos e informações para fora do “mundo real”.2 No campo das disputas políticas, esse esmaecimento dos limites entre real e virtual revela-se com clareza. Impacta as formas de organização e de ação dos movimentos sociais e é impactado por processos de manipulação e controle inéditos. Articula os territórios informacionais aos espaços sociais e econômicos e dá corpo a uma nova modalidade de ativismo, que projeta outras formas de uso dos dados e dos meios. Operando nas intersecções do real expandido pelas redes, esse ativismo indica possibilidades de mudança cultural a partir da reprogramação dos meios e de sua reverberação na esfera pública. Suas ações são o nosso foco aqui.

Artigo publicado em: Almanaque Rapsódia 12 (2018)