Quarto de Empregada

Qual a relação entre arquitetura, desigualdade e trabalho doméstico no Brasil?

Com o nome de “Casa grande”, a disciplina do curso de arquitetura e urbanismo da UFMG propõe que os alunos projetem uma residência de 800 m² em um condomínio (grande BH) com 5 suítes, além de quartos e banheiros para 8 empregados. Os alunos, por meio de uma nota de repúdio (disponível em PDF), se recusaram a entregar o projeto que “perpetua o racismo”.

O nome da disciplina, que desmerece o livro de Gilberto Freyre (Casa grande e senzala), e seu programa de necessidades apenas reafirmam as relações escravocratas presente na planta da casa colonial. O papel do arquiteto, ainda que limitado, é oferecer soluções que não reproduzam desigualdades e estigmas sociais; objetivo este que a disciplina não teve. Outrossim, sabemos que o trabalho doméstico é feito por mulheres negras e pobres, majoritariamente.

Já tivemos, por exemplo, prédios de apartamento com 1 dormitório e quarto de empregada! Ou seja, a continuidade dessas relações sociais no trabalho doméstico deve ser repensada e cabe aos arquitetos, também, tentar mudar essa realidade. As universidades públicas, tem essa responsabilidade acentuada, afinal, para quem estamos projetando? O arquiteto continuará no imaginário popular como um profissional de luxo a serviço das elites econômicas, apenas?

A persistência em manter seus privilégios faz com que as elites do Brasil não abram mão de seus supostos “direitos” e continuem vendo a sociedade dividida entre dois grupos: os que vivem para serem servidos e os que vivem para servir. Isso se reflete na segregação espacial que abrande desde a escala urbana (com os condomínios fechados) até a escala do edifício (com o quarto de empregada e o elevador “de serviço”).

Renato Cymbalista (Laboratório para Outros Urbanismos) e José Lira, ambos professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, são entrevistados pelo Nexo Jornal sobre o ocorrido na UFMG e opinam sobre o tema de forma mais geral. A entrevista com os pesquisadores pode ser lido na íntegra pelo link Qual a relação entre arquitetura, desigualdade e trabalho doméstico no Brasil?

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